28. Atafona
Poema de crroma
O mar não engole pela onda,
ele vem roendo por baixo,
mastigando subterrâneo as fundações.
O que era rijo concreto e aço,
sobre si mesmo desmorona.
Em nada se parece com uma onda.
Nenhum valor há na esperança.
O mar digere as casas vivas,
impondo-se dolorido às pessoas.
Reclama mais um terreno,
bate noutro muro.
E não se sabe mais como medir o tempo:
se pelos anos em que demorou a chegar,
ou pela pressa em que tombou o teto.
O mar erode a costa
e faz o pescador perder o porto
onde descarregar seu peixe.
Jeito não tem.
Por baixo vem corrosão,
por baixo, a ruína,
para então reinarem águas salgadas,
senão elas, reinarem dunas entalhadas pelo vento
- quando o toque no corpo é só areia.
O irrefreável avanço do mar
introduz o convívio com a perda.
Destrói particulares domínios...
e não se pode mais
Reclama mais um terreno,
bate noutro muro.
E não se sabe mais como medir o tempo:
se pelos anos em que demorou a chegar,
ou pela pressa em que tombou o teto.
O mar erode a costa
e faz o pescador perder o porto
onde descarregar seu peixe.
Jeito não tem.
Por baixo vem corrosão,
por baixo, a ruína,
para então reinarem águas salgadas,
senão elas, reinarem dunas entalhadas pelo vento
- quando o toque no corpo é só areia.
O irrefreável avanço do mar
introduz o convívio com a perda.
Destrói particulares domínios...
e não se pode mais
viver da mesma maneira.
(Do Ecoa/ Uol: 'Tudo corrói por baixo': a vida no distrito que vem sendo engolido pelo mar')
(Do Ecoa/ Uol: 'Tudo corrói por baixo': a vida no distrito que vem sendo engolido pelo mar')
