Incerteza

Imagem da poeta Jacinta Passos

Poema de Jacinta Passos



Em meu olhar se espelha
a sombra interior de incerteza angustiante.
E em minha alma floriu como rosa vermelha,
de um vermelho gritante
como o clangor de um clarim,
essa angústia que vive a vibrar dentro em mim.

É minha vida um longo, ansioso esperar
num amor que há de vir.
Amor, prazer que é dor e sofrer que é gozar,
amor que tudo dá e sem nada pedir,
e que às vezes, num segundo,
resume a glória toda e toda a ânsia do mundo.

Mas depois desse amor, o que virá? O tédio
insípido e tristonho,
desenganos sem cura e dores sem remédio,
com a posse dum bem, o desfolhar dum sonho.
Não vale mais, muito mais,
desejar sempre um bem sem possuí-lo jamais?

Oh! não. O coração
não se cansa de amar se sabe querer bem,
ter para o erro, o perdão,
renunciar a si mesmo e viver para alguém.
E se um motivo qualquer,
imperioso e fatal, o sonho desfizer,

então eu saberei bendizer, comovida,
o amor que já passou
deixando uma doçura amarga em minha vida.
Quando o sonho murchou,
também a esperança finda,
mas dentro d’alma fica uma saudade ainda.



Fonte: "Jacinta Passos, coração militante", Editora EDUFBA, 2010.
Originalmente publicado em: "Nossos Poemas", Editora Bahiana, 1942.

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