Maquinações da insônia

Imagem de Mário Quintana

Poema de Mario Quintana



Na meia-noite da memória
O relógio de meu pai
Abre-se ao meio como um fruto
O pince-nez de Tia Élida
Com seu frágil brilho de prata
Anula-se...
Suspiro: a menina aquela
A menina que eu mais gostava
Tinha uns olhos cor-de-cinza...
Onde andará seu fantasminha?
Tudo agora se enevoa... Fim?
Mas de repente, ó Adalgisa,
Ressuscitas-me!
Oh! A menininha...
A tia...
O relógio de meu pai...
E a minha mão como um polvo
Na tua vulva convulsa!



Fonte: "Quintana de Bolso", Editora L&PM Pocket, 2007.
Originalmente publicado em: "A cor do invisível", 1987.

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