Tecelagem de Aurangabade


Poema de Cecília Meireles


Entre os meninos tão nus
e as - tão pobres! - paredes
prossegue, prossegue
um rio de seda.

Velhos dedos magros,
magros dedos negros,
afogam e salvam
flores pela seda.

Os lírios são roxos,
os lírios são verdes,
entre as margens pobres
na água lisa da seda.

E os meninos nuzinhos
passam na transparência
do claro rio de flores,
mas evadidos da seda.

Do outro lado da trama,
seus olhos apenas deixam
orvalhos entre as flores,
areias de luz na sede.

Tão finos, os fios da água!
Lírios roxos e verdes.
E (fora) os meninozinhos
nus (por dentro da seda).



Fonte: "Antologia Poética", Editora do Autor, terceira edição, 1966.
Originalmente publicado em: "Poemas escritos na Índia", 1961.
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