*


Poema de Manoel de Barros



Retrato do artista quando coisa: borboletas
Já trocam as árvores por mim.
Insetos me desempenham.
Já posso amar as moscas como a mim mesmo.
Os silêncios me praticam.
De tarde um dom de latas velhas se atraca
Em meu olho.
Mas eu tenho predomínio por lírios.
Plantas desejam a minha boca para crescer por de cima.
Sou livre para o desfrute das aves.
Dou meiguice aos urubus.
Sapos desejam ser-me.
Quero cristianizar as águas.
Já enxergo o cheiro do sol.



Fonte: "Poesia Completa", Editora Leya, 2010.
Originalmente publicado em: "Retrato do artista quando coisa", 1998.
Tecnologia do Blogger.