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Poema de Hilda Hilst



Se falo
É por aqueles mortos
Que dia a dia
Em mim se ressuscitam.
De medos e resguardos
É a alma que nos guia
A carne aflita.
E de espanto
É o que tecemos:
Teias de espanto
Ao redor da casa
Onde vivemos.
Trituramos cada dia
(Agonizantes amenos)
Constelações e poesia
E um certo jeito de amar
Que a nós, de vôos
E vertigens, não convém.
E quem sabe o que convém
A seres tão exauridos.
Concedemos
Alento, nudez, lirismo
E contudo o que mais somos
São estes sonhos
Adentro indevassáveis
Bosques lilases
Caminhos levando ao mar
Aves
Aves.



Fonte: "Da Poesia", Editora Companhia das Letras, 2017.
Originalmente publicado em: "Ode fragmentária", editora Anhembi, 1961.


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