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Poema de Hilda Hilst
O teu gesto de alegria
nunca será para mim.
O teu conflito noturno
este sim
pousará na minha face.
Existe sempre o mar
sepultando pássaros
renovando soluços
rompendo gestos.
Existe sempre uma partida
começando em ti
tomando forma
e sumindo contigo.
Existe sempre um amigo perdido
um encontro desfeito
e ameaços de pranto na retina.
Existe um canto de glória
iniciado nunca
mas guardado no meu peito
dissolvendo a memória.
E além da canção incontida
do teu amor ausente
além da irrevelada amargura
desta espera
existe sempre a terra
desfazendo
as vontades primeiras de Existir.
Originalmente publicado em: "Presságio", Revista dos Tribunais, 1950.