Duplicidade do tempo
Poema de João Cabral de Melo Neto
O níquel, o alumínio, o estanho,
e outros assépticos elementos,
ao fim se corrompem: o tempo
injeta em cada um seu veneno.
A merda, o lixo, o corpo podre,
os humores, vivos dejetos,
não se corrompem mais: o tempo
seca-os ao fim, com mil cautérios.
Originalmente publicado em: "Museu de tudo", 1975.