Balada pré-nupcial

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Poema de Hilda Hilst



Menina, nunca na vida
vi coisa igual a tua boca
nem nunca meus olhos viram
teu corpo e tua carne moça.
Deixa que eu sinta a beleza
de tuas coisas escondidas.
E o cravo desabrochado
se expandia, se expandia...
Deixa meu peito ondular-se
nas tuas pernas de repente
permitidas. E prometo...
prometo mares e mundos
e te imagino subindo
as escadas de uma igreja
nós dois as mãos enlaçadas
nossa culpa redimida.
Deixa menina que eu diga
aquela palavra louca
no teu ouvido... Não ouças!
mas deixa, porque no amor
as palavras se transformam
e têm um outro sentido.
Me abraça e morre comigo.
E as duas coisas se chocaram
na mesma doida investida...
Soluço que não se ouvia
(espaçado e comovido)
e o cravo que se expandia
foi se abrindo, foi se abrindo
em choro, promessa e dor,
florindo o filho do medo
muito mais medo que amor.



Fonte: "Da Poesia", Editora Companhia das Letras, 2017.
Originalmente publicado em: "Presságio", Revista dos Tribunais, 1950.


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