Quatro

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Poema de Cecília Meireles



Agora chego e estremeço.
E olho e pergunto.
E estranho o aroma da terra,
as cores fortes do mundo
e a face humana.

Compreendo, entre o que me espera,
violências que reconheço
mas que não sinto.
Sem paixões e sem desprezo
gasto-me todo em lembranças,
neste tumulto.

Porque chego despojado
e humilho-me de ter vindo
como estrangeiro;
de ser apenas um vulto
que tudo que sabe é de alma
- ao resto, alheio.

As portas dos meus armários,
que guardam dentro? Esqueci-me.
De que me servem?
Por mais que tudo examine,
vejo bem que já não tenho
laços e heranças.

Perdoai-me chegar tão leve,
eu, passageiro
dos céus, de límpido vento.



Fonte: "Antologia Poética", Editora do Autor, terceira edição, 1966.
Originalmente publicado em: "O Aeronauta", 1952.


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