Desenho leve
Poema de Cecília Meireles
Via-se morrer o amor
de braços abertos.
Uma espuma azul andava
nas areias desertas.
Nos galhos frescos das árvores,
recentemente cortadas,
meninas todas de branco
se balançavam.
O eco partia o baralho
de suas risadas.
Via-se morrer o amor
de mãos estendidas.
Uma lua sem memória
pelas águas transparentes
arrastava seus vestidos.
Via-se morrer o amor
de solidões cercado.
Via-se e tinha-se pena
sem se poder fazer nada.
E era uma tarde de lua,
com vento pelas estrelas
esquecidas.
E ao longe riam-se as crianças;
no princípio do mundo,
no reino da infância.
Fonte: "Antologia Poética", Editora do Autor, terceira edição, 1966.
Originalmente publicado em: "Retrato Natural", 1949.