cabeceira
Poema de Ana Cristina César
Intratável.
Não quero mais pôr poemas no papel
nem dar a conhecer minha ternura.
Faço ar de dura,
muito sóbria e dura,
não pergunto
“da sombra daquele beijo
que farei?”
É inútil
ficar à escuta
ou manobrar a lupa
da adivinhação.
Dito isto
o livro de cabeceira cai no chão.
Tua mão que desliza
distraidamente?
sobre a minha mão
Fonte: "Poética", editora Companhia das Letras, 2013.
Originalmente publicado em: "A Teus Pés", editora Brasiliense, 1982.