Amar-amaro
Poema de Carlos Drummond de Andrade
por que amou por que almou
se sabia
proibido passear sentimentos
ternos ou desesperados
nesse museu do pardo indiferente
me diga: mas por que
amar sofrer talvez como se morre
de varíola voluntária vágula ev
idente?
ah PORQUEAMOU
e se queimou
todo por dentro por fora nos cantos nos ecos
lúgubres de você mesm(o, a)
irm(ã, o) retrato espéculo por que amou?
se era para
ou era por
como se entretanto todavia
toda via mas toda vida
é indagação do achado e aguda espotejação
da carne do conhecimento, ora veja
permita cavalheir(o, a)
amig(o, a) me releve
este malestar
cantarino escarninho piedoso
este querer consolar sem muita convicção
o que é inconsolável de ofício
a morte é esconsolável consolatrix consoadíssima
a vida também
tudo também
mas o amor car(o, a) colega este não consola nunca de núncaras
Fonte: "Antologia Poética", Editora Record, 2001.
Originalmente publicado em: "Lição de coisas", Editora José Olympio, 1962.