Está feito
Poema de crroma
Está feito.
Quer que faça
o quê?
O fogo queimou arquivos, museus, florestas.
A civilidade era um rabisco em papel de seda
que o fogo transformou em cinza.
Está feito, o tempo acabou.
O antigo autoritarismo rebentou as vagens, transbordando de grãos pelas ruas.
Os bois pisotearam a terra com chifres de ouro e pistolas.
Médicos alquimistas testaram drogas em humanas cobaias
que pereceram às centenas.
Estátuas brancas e corrompidas se banhavam à luz do dia.
Nas grandes expansões do espaço, agrotóxico, mercúrio, rejeitos escorriam.
A barbárie deixou de ser reconhecível.
O tempo acabou em meio à pandemia.
O coveiro leva a pá no ombro.
Está feito.
Não há mais cura, não há mais nada.
Quer que faça
o quê?