Conclusão

Imagem de Carlos Drummond de Andrade

Poema de Carlos Drummond de Andrade



Os impactos de amor não são poesia
(tentaram ser: aspiração noturna).
A memória infantil e o outono pobre
vazam no verso de nossa urna diurna.

Que é poesia, o belo? Não é poesia,
e o que não é poesia não tem fala.
Nem o mistério em si nem velhos nomes
poesia são: coxa, fúria, cabala.

Então, desanimamos. Adeus, tudo!
A mala pronta, o corpo desprendido,
resta a alegria de estar só, e mudo.

De que se formam nossos poemas? Onde?
Que sonho envenenado lhes responde,
se o poeta é um ressentido, e o mais são nuvens?



Fonte: "Antologia Poética", Editora Record, 2001.
Originalmente publicado em: "Fazendeiro do ar & Poesia até agora", Editora José Olympio, 1954.


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