Poema XXI, Canto Primeiro
Poema de Jorge de Lima
Decide-se a fazer os cactos,
quer dizer: simetria. Urgência
em colocar espinhos onde
estariam as folhas gordas
dos facetados mastros verdes
de gomos estandardizados,
duros, fortes, blindados como
arma de destruição e fúria,
sem desejar sequer um ramo
para dar pouso ou sombra ou fruto
ou segregar resina; mas
adivinha-se o sangue às pontas
estripando vaqueiros, e uivos
de ventos trespassados quando
distraídos perpassam. Vê-se
a provisão constante d'água
contra a seca; sem ter raízes
profundas, para não fixar-se
de ventos trespassados quando
distraídos perpassam. Vê-se
a provisão constante d'água
contra a seca; sem ter raízes
profundas, para não fixar-se
demais, e ser nos ares um
mirante, contemplando os céus
de fogo, e embaixo a terra morta,
e lá longe - pedrouços, ossos,
luas vermelhas, céus de fogo.
mirante, contemplando os céus
de fogo, e embaixo a terra morta,
e lá longe - pedrouços, ossos,
luas vermelhas, céus de fogo.
Mandacarus, mandacarus,
que técnica vos fez tão torres
nesse verde marfim de caule
que não dá lenho para quem
que técnica vos fez tão torres
nesse verde marfim de caule
que não dá lenho para quem
deseje um poema, um navio
manso, mas encarnais ossuários
com tutanos de seiva oculta
manancialmente para bois.
Fonte: "Invenção de Orfeu", Tecnoprint Gráfica, 1967.
Originalmente publicado em: "Invenção de Orfeu", Livros de Portugal S. A, 1952.
manso, mas encarnais ossuários
com tutanos de seiva oculta
manancialmente para bois.
Fonte: "Invenção de Orfeu", Tecnoprint Gráfica, 1967.
Originalmente publicado em: "Invenção de Orfeu", Livros de Portugal S. A, 1952.