Metáfora
Poema de Myriam Fraga
Quando cheguei,
A solidão
Era uma porta.
Havia uma cruz marcada
E um círculo na fachada.
Quando cheguei,
Era um muro,
Com seus sinais
Apagados,
Bandeiras rotas tremiam
Penduradas nas sacadas,
Um fragmento de filme,
Um pedaço de jornal
E a fogueira dos bruxos
Alteando-se na praça,
Um surdo rumor de pedras
Reviradas
E sal para os lábios secos
E a cutilada do lado.
Mais:
Um palácio de ossos
Para o rei
E seus vassalos.
Fonte: "Poesia reunida", Oiti, 2021.
Originalmente publicado em: "As purificações ou O sinal de talião", Civilização Brasileira, 1981.