Pintura-ara
Poema de Olga Savary
Exilada das manhãs,
de noite é que me visito.
Caminho só pela casa
e o viajar na casa escura
e o viajar na casa escura
faz soar meus passos mudos
como em floresta dormida.
Me vêem, eu que não me vejo,
as coisas - de corpo inteiro.
O real está me sonhando,
o real por todo lado.
Não sou eu que vivo o medo;
em seu tapete de sombras,
por ele é que sou vivida.
Aonde me levam estes passos
que não soam e que não vão:
às armadilhas do voo
como a paisagem no espelho
espatifado no chão?
O escuro é tanque de limo
para minha sombra escolhida
pela memória do dia.
Deixo o mel e ordenho o cacto:
cresço a favor da manhã.
Fonte: "Repertório selvagem - obra reunida", Biblioteca Nacional/ Multi Mais/ Universidade de Mogi das Cruzes, 1998.
Originalmente publicado em: "Sumidouro", Massao Ohno/João Farkas Editores, 1977.
Fonte: "Repertório selvagem - obra reunida", Biblioteca Nacional/ Multi Mais/ Universidade de Mogi das Cruzes, 1998.
Originalmente publicado em: "Sumidouro", Massao Ohno/João Farkas Editores, 1977.