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Poema de Vera Lúcia de Oliveira
despeja-se da tela o maciço do corpo forte
não se vê o outro abaixo rasurado raso baixo
não se vê o porte o peso a altura a proporção
não se vê o peito ali que bate bate
não se vê como olha sua mãe
do lado de lá desse chão gelado
não se vê como nota um carrinho que passa
não se vê como ouve a voz que grita
moço ele não respira moço ele não
não se vê se treme se pulsa nas têmporas
não se vê se baba se sua chora faz xixi na calça
não se vê se contrai a mão se repuxa os pés
num espasmo de vida quando se vai
não se vê se bate ainda o coração não
se vê se morre morre morre morre
não se vê
Fonte: "Revista Opiniães", DLCV-USP, 2019.
Originalmente publicado em: "Revista Opiniães", DLCV-USP, 2019.