Quadras populares 401 a 420
Poema anônimo
401
Fui andando prum caminho.
De tristeza pus-me a rir:
Encontrei uma formiga
Já com dores pra parir.
De tristeza pus-me a rir:
Encontrei uma formiga
Já com dores pra parir.
402
Fui no jardim passear
Pra alegrar meu dissabor:
Vi escrito com letra de ouro
O teu nome em cada flor.
403
Fui na horta apanhar salsa,
A cebola me picou;
Fui rindo, voltei chorando:
Bonito! - Quem me mandou?
404
Fui na fonte beber água,
Não foi sede, não foi nada;
Fui é ver o meu benzinho
Debaixo da ramalhada.
405
Garrafão tem fundo largo,
Botija não tem pescoço,
Pedaço de telha é caco,
Banana não tem caroço.
406
Galinha tem duas asas,
Mas não tem duas moelas,
O ovo tem duas gemas,
Uma branca, outra amarela.
407
Gasta o tempo a pedra dura,
A força que o ferro tem:
Só nunca pode gastar
Lembranças de ti, meu bem.
408
Galo canta à meia noite,
É sinal de amanhecer:
Me bote daqui pra fora,
Não me dê a conhecer.
409
Galo canta à meia noite,
De madrugada também;
Quem não tiver paciência
Não se meta a querer bem.
410
Galo canta todo dia,
Canta o galo toda hora.
Mas não é alcoviteiro
De quem ama fora d’hora.
412
Há duas coisas no mundo
Que me faz admirar:
Trem de ferro andar no chão,
Telegrama andar no ar.
413
Há três dias que não como,
Há quatro que não almoço;
Por falta de teus carinhos
Quero comer, mas não posso.
414
Há quem seja réu de morte
Sem consciência de o ser :
Digam, se podem, teus olhos
Se não nos fazem morrer.
415
Hei de pegar nos meus olhos,
Hei de os furar com um pauzinho.
Os meus olhos são a causa
De eu andar por mau caminho.
416
Hei de me pôr a cantar,
Já que chorando nasci,
Para ver se recupero
O que chorando perdi.
417
Hei de romper embaraços,
Benzinho, por te servir:
Não temo perder a vida,
Que para morrer nasci.
418
Há duas coisas no mundo
Que dão confusão na gente:
É padre ir para os infernos
E doutor ficar doente.
419
Há duas cousas no mundo
Que meu coração não quer :
É piolho de galinha
E ciúme de mulher.
420
Ingrata, porque me foges,
Porque me fazes sofrer?
É inútil me fugires,
Hei de amar-te até morrer
Fonte: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.
Originalmente publicado em: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.