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Poema de Fernando Pessoa



No alto da tua sombra, a prumo sobre
A inconstância irreal de vida e dias,
Achei-me só e vi que as agonias
Da vida, o tédio e a morte as cobre.

Ali, no alto de ser, sentir é nobre,
Despido de ilusões e de ironias.
Não sinto as mãos unidas, que estão frias,
Não sei de mim, o que fui era pobre.

Mas mesmo nessa altura de mistério
E abismo de ascensão não encontrei
Paragem, conclusão ou refrigério.

Deixei atrás o acaso de viver,
O ser sempre outrem, a escondida lei,
Caos de existirmos, névoa de o saber.



Fonte: 'Obra Poética', décima edição, Editora Nova Fronteira, 2001.

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