À Bahia
Poema de Gregório de Matos
Tristes sucessos, casos lastimosos,
Desgraças nunca vistas, nem faladas,
São, ó Bahia! vésperas choradas
De outras que estão por vir mais estranhosas.
Sentimo-nos confusos, e teimosos,
Pois não damos remédio às já passadas,
Nem prevemos tampouco as esperadas,
Como que estamos delas desejosos.
Levou-vos o dinheiro a má fortuna,
Ficamos sem tostão, real nem branca,
Macutas, correão, novelos, molhos.
Ninguém vê, ninguém fala, nem impugna,
E é que, quem o dinheiro nos arranca,
Nos arranca as mãos, a língua, os olhos.
Fonte: "Seleção de Obras Poéticas", Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro, 1996.
Originalmente publicado em códices da segunda metade do século XVII.