Carnaval depois
Poema de crroma
Depois de uma pandemia,
depois da hecatombe indígena,
de um terror que se pregou às coisas e não dissipa,
finalmente até que enfim já não aguentava mais
chegou outro carnaval
pro povo pular na rua.
O mestre de bateria sopra o apito.
Tambor bate; pandeiro
repica.
E toma-se um porre de mídia mídia mídia
mídia mídia
social.
Lá vem o desfile de abundantes derrières -
femininos somente,
porque os masculinos fariam oficiais da marinha
clamarem pelas matriarcas.
A mulher abacaxi de seios de fora perdeu o casamento.
A mulher medo e delírio
só sabe passar raiva, passar pano,
raiva e pano, raiva e pano.
A fantasia da mulher melão custou mais de cem mil reais.
E a mulher lambari caiu das tamancas
(as tamancas voltaram à moda neste mês de Fevereiro).
Viva o tempo das famosas do próximo minuto
quase não nuas nem despidas!
- Uma foto, por favor, de minha virilha minha barriga minhas panturrilhas
meus dedinhos dos pés esmaltados de vermelho,
deixei os filhos com o ex e sofro saudade danada de um flash!
Mas que se respeite o em pêlo:
o governador mandou prender abusadores.
- Vai prender meio país? perguntou em exaltação o delegado de polícia.
Claro que não, seu delegado, era só fanfarronice. Todo mundo conhece
que homem neste país não presta.
Por falar nisso, que milionário
(enriquecido por sonegar impostos)
insinuou-se àquela atriz modelo celebridade?
Não sei e só não tenho raiva de quem sabe
porque estamos em carnaval.
Carnaval!
Mediante prévio assentimento,
deixa beijos rolarem rocambolescos,
deixa o bloco passar
e atrás dele foliemos
com que alívio, quase
com que alegria.