Ouro Preto - Murilo Mendes
Poema de Murilo Mendes
A alma livremente encarcerada
Comunica-se com os doidos e os poetas
Que pelas frias naves dão-se os pés.
Sinto grego o céu de outrora me envolver.
A cavalo sobre as igrejas de pedra
Irrompe o Aleijadinho na sua capa.
Nas linhas de ar balança-se o relógio
Marcando cegamente o compasso do tempo.
Um vulto cruza outro na ladeira.
Pelos desertos espaços metafísicos
Arrastam-se as sandálias da pobreza.
Das varandas azuis tombam ossadas:
Ouro Preto severa e íntima adormece
Num abafado rumor de águas subterrâneas.
Fonte: "Poesia completa e prosa", Nova Aguilar, 1994.
Originalmente publicado em: "Poesias", J. Olympio, 1959.
