Elegia nova - Murilo Mendes
Poema de Murilo Mendes
O horizonte volta a galope
Curvado sob o martelo.
É noite: e dói.
Esta cidade irregular desfeita,
Roseiras de peles de homens,
Torres de suplícios,
Campos semeados de metralhadoras,
O rendimento dos abismos
O mar perde suas folhas.
A cruz gerou um universo de cruzes,
O sol deixou de rir,
As árvores tomaram luto verde.
Sento-me sozinho com pavor do tempo,
Procurando decifrar
A maquinária imóvel das montanhas.
Não há ninguém, e há todos.
E estes mortos do Brasil, da China, da Inglaterra
Estendidos no meu coração
(Tambores da eternidade,
Substância da esperança,
Ó vida rasgada
Entre dois goles de delírios.)
Morte, apetite de ressurreição, grande insônia.
Fonte: "Poesia completa e prosa", Nova Aguilar, 1994.
Originalmente publicado em: "Poesia liberdade", Editora Globo, 1945.
