Vigília - Murilo Mendes
Poema de Murilo Mendes
Ninguém moverá para mim
A máquina do sonho e da noite.
Eu a moverei.
Eu a moverei.
Tantos corpos já rodaram...
A caligrafia das constelações é claríssima.
Tantos amores dissonantes
Se alimentaram de mim.
Fui construído a golpes de angústia:
E já vejo se erguer no horizonte
O futuro momento de cinza
Guardado pelos deuses-estandartes.
O futuro momento de cinza
Guardado pelos deuses-estandartes.
Até quando, Ente oblíquo,
Abusarás da minha sede?
Fonte: "Poesia completa e prosa", Nova Aguilar, 1994.
Originalmente publicado em: "As metamorfoses", Editora Ocidente, 1944.