A face lívida

Imagem Henriqueta Lisboa

Poema de Henriqueta Lisboa



Não a face dos mortos.
Nem a face
dos que não coram
aos açoites 
da vida.
Porém a face 
lívida
dos que resistem
pelo espanto.

Não a face da madrugada
na exaustão
dos soluços. 
Mas a face do lago
sem reflexos
quando as águas
entranha.

Não a face de estátua
fria de lua e zéfiro.
Mas a face do círio
que se consome
lívida
no ardor




Fonte: "Obra completa", Editora Peirópolis, 2020.
Originalmente publicado em: "A face lívida", 1945.