Abril

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Poema de Myriam Fraga



Escrevo de memória.
A infância é um bolo
Na garganta
E a dor de dividir-se
Nos espelhos.

Que foi feito de mim,
Daquela estória
Que eu me contei um dia
E que perdi?

Escrevo sempre à noite;
Pela manhã apago
E recomeço.

É tão difícil viver,
É tão de açoite
O vento nas vidraças!

É abril e chove,
E a terra morta
Onde o lilás floresce
É minha pátria agora,
Meu destino. Ínsula.




Fonte: "Poesia reunida", Oiti, 2021.
Originalmente publicado em: "Femina", Fundação Casa de Jorge Amado/Copene, 1996.