Balalu
Poema de Raul Bopp
Quando a morfética do Banco Seco tinha fome
descia até a cidade.
De todos os lados gritavam:
- Lá vem ela!
- Entra pra dentro meu filho
que aquela velha te pega.
Balalu tinha as carnes arrebentadas
e uma ferida mole atrás da orelha
que às vezes pingava sangue.
Os caixeiros enxotavam a coitada da porta das lojas.
Então ela saía errando passos pelas ruas.
Afundava os dedos nas latas de lixo
procurando comida.
Das esquinas a gurizada gritava:
- Balalu
- Balalu
Ela esticava os olhos inchados de raiva
debaixo das pestanas roídas.
Uma noite,a morfética subiu no morro da caixa-d’água
e não voltou mais.
De pé, com os braços trágicos, soltou um grito de ódio à cidade
que fervia lá embaixo.
E atirou-se num dos tanques de água filtrada.
No outro dia os urubus se reuniram para a ceia
grasnando em voz baixa:
- Balalu...
- Balalu...
Fonte: "Poesia completa de Raul Bopp", José Olympio Editora, 2014.
Originalmente publicado em: "Diábolus", Cadernos Brasileiros,Rio de Janeiro, 1967.
Fonte: "Poesia completa de Raul Bopp", José Olympio Editora, 2014.
Originalmente publicado em: "Diábolus", Cadernos Brasileiros,Rio de Janeiro, 1967.