Cubismo
Poema de Guilherme de Almeida
Um Arlequim feito de cubos
equilibrados:
trinta losangos arranjados
sobre dois tubos.
- Ele talvez
jogue xadrez...
No halo, que a lâmpada tranquila
rasga, de cima,
esse Arlequim de pantomima
oscila, oscila,
e vem... e vai...
e quase cai...
Mas entra alguém: é uma silhueta
que espia e passa.
Seu riso é um fruto sob a graça
da mosca preta.
- É uma mulher
como qualquer...
Um gesto só lânguido e doce:
e, num instante,
Dom Arlequim, o petulante,
esfarelou-se...
- Todo Arlequim
é mesmo assim...
Fonte: "Toda a poesia", Livraria Martins, 1955.
Originalmente publicado em: "Encantamento", Livraria do Globo, 1925.