Cobra Norato - trechos 32 e 33

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Poema de Raul Bopp



XXXII


- E agora, compadre
vou de volta pro Sem-fim

Vou lá para as terras altas
onde a serra se amontoa
onde correm os rios de águas claras
entre moitas de molungu

Quero levar minha noiva
Quero estarzinho com ela
numa casa de morar
com porta azul piquininha
pintada a lápis de cor

Quero sentir a quentura
do seu corpo de vaivém
Querzinho de ficar junto
quando a gente quer bem bem

Ficar à sombra do mato
ouvir a jurucutu
águas que passam cantando
pra gente se espreguiçar

E quando estivermos à espera
que a noite volte outra vez
hei de lê contar histórias
escrever nomes na areia
pro vento brincar de apagar


XXXIII


Pois é, compadre
Siga agora o seu caminho

Procure minha madrinha Maleita
diga que eu vou me casar
que eu vou vestir minha noiva
com um vestidinho de flor

Quero uma rede bordada
com ervas de espalhar cheiroso
e um tapetinho titinho
de penas de irapuru

No caminho
vá convidando gente pro Caxiri grande

Haverá muita festa
durante sete luas sete sóis

Traga a Joaninha Vintém o Pajé-pato Boi-Queixume
Não se esqueça dos Xicos Maria-Pitanga o João Ternura

O Augusto Meyer Tarsila Tatizinha
Quero povo de Belém de Porto Alegre de São Paulo

- Pois então até breve, compadre
Fico lê esperando
atrás das serras do Sem-fim




Fonte: "Poesia completa de Raul Bopp", José Olympio Editora, 2014.
Originalmente publicado em: "Cobra Norato", Irmãos Ferraz, 1931.