Cobra Norato - trecho 4

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Poema de Raul Bopp



IV

Esta é a floresta de hálito podre
parindo cobras

Rios magros obrigados a trabalhar
A correnteza se arrepia
descascando as margens gosmentas

Raízes desdentadas mastigam lodo

Num estirão alagado
o charco engole a água do igarapé

Fede
O vento mudou de lugar

Um assobio assusta as árvores
Silêncio se machucou
Cai lá adiante um pedaço de pau seco:
Pum

Um berro atravessa a floresta
Chegam outras vozes

O rio se engasgou num barranco

Espia-me um sapo sapo
Aqui tem cheiro de gente
- Quem é você?

- Sou a Cobra Norato
Vou me amasiar com a filha da rainha Luzia




Fonte: "Poesia completa de Raul Bopp", José Olympio Editora, 2014.
Originalmente publicado em: "Cobra Norato", Irmãos Ferraz, 1931.