Jogo na tarde

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Poema de Olga Savary



Desafio um deus tardo
que te mostra e esconde
como jogo de vagas submersas
ao aproximar do som de teus sapatos
pisando cuidado e aéreo ferro
em tua pupila azul doce-feroz
- concha aturdida que se anuncia
no último cristal da tarde.

Mariscos que se incrustam no teu flanco
e te ferem sem que alguém os possa ver
são os sinais da violência interna,
a marca do fogo, fera-caramujo
impassível de serena aparência.

Imaginado
eras único ser que se percorre
entre o sal e duas ondas.
Então leio teus versos como leio a água
e vejo claro o cristal na tarde
em que te exaures.




Fonte: "Repertório selvagem - obra reunida", Biblioteca Nacional/ Multi Mais/ Universidade de Mogi das Cruzes, 1998.
Originalmente publicado em: "Espelho Provisório", José Olympio, 1970.