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Poema de Olga Savary



Dentro da noite, por tristeza,
mordo caquis - fere tanto
o tenro caqui enganando
o maduro da tristeza.
E vem a saudade-fúria
das rosas e dos morangos
comidos ao sol de maio
pensando que isso traria
a cautela de veludo
e o lirismo vadio
da alegria de ser tudo
(eu mastigava os verdes,
doida de amor devorava
os canteiros do jardim:
queria voltar à terra,
queria ser germe de novo,
queria queria ser terra,
dormir com o rosto no chão).

Fome, vem que não tem jeito.
Mas que sabes tu do pasto?




Fonte: "Repertório selvagem - obra reunida", Biblioteca Nacional/ Multi Mais/ Universidade de Mogi das Cruzes, 1998.
Originalmente publicado em: "Espelho Provisório", José Olympio, 1970.