O inominável

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Poema de Mario Quintana



O eu nem nome tem. O meu nome, diz ele, é João. E daí? É como se dissesse o meu nariz, os meus óculos, o meu par de sapatos.
Este eu irredutível é o que existe de mais impessoal, portanto, mais vasto e mais profundo, o assunto primeiro e ultimo dos poemas, o campo de batalha dos anjos.
O resto é a pessoa ocasional, isto é, o individuo a quem emprestaram o nome de João, que comprou um par de sapatos, que usa óculos e se julga dono do próprio nariz.




Fonte: "Poesia Completa", Editora Nova Aguilar, 2006.
Originalmente publicado em: "A vaca e o hipogrifo", 1977.