Cantiga II
Poema de José Albano
Passarinho lisonjeiro
Cuja voz o espaço invade,
Se vives em liberdade,
Passo a vida em cativeiro.
Voltas
Vejo-te a voar nos ares
Alegre, as asas batendo,
E o motivo não entendo
De tanto me lastimares;
Pois a não ser prisioneiro
Ninguém, a mim, me persuade;
Pela tua liberdade
Não troco o meu cativeiro.
Preferes o teu estado
E o meu destino prefiro;
Voas livremente em giro.
Trazem-me em grilhões atado.
Só no dia derradeiro
Hei de me soltar, pois há-de
Ser-me morte a liberdade
E é-me vida o cativeiro.
Mas se me tens em desprezo,
Ainda assim te perdoo;
Sobe pelos céus em voo
E deixa-me à terra preso.
E isso tudo, eu te requeiro
Que no canto se traslade:
Louva a tua liberdade
Que eu louvo o meu cativeiro!
Fonte: "Rimas de José Albano", Pongetti, 1948.
Originalmente publicado em: "Rimas - Redondilhas; Rimas - Alegoria, Canção a Camões, Ode à Língua Portuguesa", Oficinas de Fidel Giró, 1912.