Quadras populares 41 a 60


Poema anônimo


41

A ceguinha que aqui vedes
Tinha olhos, via a luz;
E agora, irmãos, pede esmolas
Pelo sangue de Jesus.

42

Atrevido pensamento
Não me acabes de matar,
Que basta pra meu castigo
Querer bem mas não gozar.

43

As penas de meu martírio
Mais cruéis não podem ser:
Ter olhos para chorar,
Não ter olhos pra te ver.

45

As flores do cafeeiro
Estão branquinhas a cair...
Não fiques triste, menina,
Quando me vires partir.

46

As brancas ficam malucas
Se passam junto de mim;
Machuca, meu bem, machuca,
Machuca, mulata, assim!

47

A moreninha me encanta,
Me derrete, me maltrata,
Me envenena, me enfeitiça,
Me fere, me abrasa e mata!

48

Ao ver seus olhos formosos,
Cheios de tanto langor,
Quem suporia seu peito
Tão cruel e tão traidor!

49

Aqui estou em vossa porta
Feito um feixinho de lenha,
À espera da resposta
Que de vossa boca venha.

50

Às vezes pareço crer,
Quando a terra flores dá,
Serem as cópias fiéis
Das flores que existem lá.

51

As saudades que te trago
Foram da terra arrancadas,
Mas as que sinto por ti
Estão n’alma enraizadas.

52

Adeus, eu vou conturbado,
Eu parto cheio de dor;
Tu ficas, mas vai comigo
Dentro d’alma o meu amor!

53

Adeus, eu vou quase morto
De saudade e de pesar;
Não consideras, ó anjo,
Com que dor vou te deixar.

54

Adeus, ó minha delícia!
Sê fiel como eu serei;
Pensa em mim como eu te amo,
Como eu em ti pensarei.

55

Adeus, de mim não te esqueças.
Mimoso lírio dos céus;
Recebe o mais triste abraço
Neste tão penoso adeus.

56

Adeus! - o momento chega
Da funesta despedida;
Meu coração vai sangrando,
A minh’alma vai partida.

57

Adeus te digo, enxugando
O pranto dos olhos meus.
Sê fiel na minha ausência,
Meu amor, adeus! adeus!

58

Aqui nesta soledade
Cada flor é tua imagem.
Cada murmúrio um suspiro.
Cada gemido uma aragem.

59
Amo-te! - Se isso é crime,
A culpa teus olhos têm;
Tu tens uns olhos tão lindos
Como nunca vi ninguém.

60

Amo-te! - não sou culpado....
Teu olhar isso causou;
Sem amor sou criminoso,
A culpa tem quem olhou.



Fonte: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.
Originalmente publicado em: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.

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