Olhos

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Poema de Alphonsus de Guimaraens



Olhos sublimes, sombras chinesas,
Sob a arcaria das sobrancelhas...
Solar magnífico, onde princesas
Passam de túnicas vermelhas...

Olhos de poente, luares remotos
Por entre torres inaccessíveis...
Rosas e lírios, goivos e lotos,
Roxas violetas impassíveis...

Olhos viúvos, santos, blasfemos,
Ladainha dos Sete Pecados...
Nuvens doiradas de crisântemos,
Sonhos de místicos noivados...

Olhos pungentes, que chorais tanto,
Dias de luto, noites em calma...
Instrumentados por algum Santo
Para o responso da minha alma...

Olhos profundos, florindo juntos,
Cheios dos sangues dos sacrifícios...
Eças armadas para defuntos,
Dobres dos últimos ofícios...

Olhos, olhares evocadores
De espectros mudos de altivo porte...
Fechai a campa dos meus amores,
Oficiantes da minha morte!



Fonte: "Pastoral aos crentes do amor e da morte", Monteiro Lobato & Cia. Editores, 1923.
Originalmente publicado em: "Pastoral aos crentes do amor e da morte", Monteiro Lobato & Cia. Editores, 1923.

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