Cisnes brancos
Poema de Alphonsus de Guimaraens
Ó cisnes brancos, cisnes brancos,
Porque viestes, se era tão tarde?
O sol não beija mais os flancos
Da montanha onde mora a tarde.
Ó cisnes brancos, dolorida
Minha alma sente dores novas.
Cheguei à terra prometida:
É um deserto cheio de covas.
Voai para outras risonhas plagas,
Cisnes brancos! Sede felizes...
Deixai-me só com as minhas chagas
E só com as minhas cicatrizes.
Venham as aves agoureiras,
De risada que esfria os ossos...
Minha alma, cheia de caveiras,
Está branca de padre-nossos.
Queimando a carne como brasas,
Venham as tentações daninhas,
Que eu lhes porei, bem sob asas,
A alma cheia de ladainhas.
Ó cisnes brancos, cisnes brancos,
Doce afago da alva plumagem!
Minha alma morre aos solavancos
Nesta medonha carruagem...
Fonte: "Pastoral aos crentes do amor e da morte", Monteiro Lobato & Cia. Editores, 1923.
Originalmente publicado em: "Pastoral aos crentes do amor e da morte", Monteiro Lobato & Cia. Editores, 1923.