A corrente

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Poema de Alphonsus de Guimaraens



Todos vós que me ouvis, fazei reparo:
Assentai-vos à beira da corrente.
Prestai ouvido. Ei-la que vai, silente,
Por sobre os seixos do seu leito claro.

Se alegre estais, cantai o vosso canto
De amor; se triste sois, chorai agora:
Que a alva corrente cantará canora
E há de chorar convosco o vosso pranto.

Se a alma tiverdes cheia de queixumes,
Que dor nas águas sentireis! Mas, quando
Irado estais, ei-las que vão ecoando
Todo o vosso clamor de ira e de ciúmes...

Oh! não creiais no marulhar das águas,
Almas ledas, e vós, almas sombrias:
Elas riem com as vossas alegrias,
Elas choram também com as vossas mágoas.



Fonte: "Pastoral aos crentes do amor e da morte", Monteiro Lobato & Cia. Editores, 1923.
Originalmente publicado em: "Pastoral aos crentes do amor e da morte", Monteiro Lobato & Cia. Editores, 1923.

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