Lírio astral (trecho)

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Poema de Cruz e Souza



Lírio astral, ó lírio branco,
        Ó lírio astral,
No meu derradeiro arranco
        Sê cordial!

Perfuma de graça leve
        O meu final
Com o doce perfume breve,
        Ó lírio astral!

Dá-me esse óleo sacrossanto,
        Toda a caudal
Do óleo casto do teu pranto,
        Ó lírio astral!

Traz-me o alivio dos alívios,
        Ó virginal,
Ó lírio dos lírios níveos,
        Ó lírio astral!

Dentre as sonatas da lua
        Celestial,
Lírio, vem, lírio, flutua,
        Ó lírio astral!

Dos raios das noites de ouro,
        Do roseiral,
Do constelado tesouro,
        Ó lírio astral!

Desprende o fino perfume
        Etereal
E vem do celeste fume,
        Ó lírio astral!

Da maviosa suavidade
        Do céu floral
Traz a meiga claridade,
        Ó lírio astral!

Que bendita e sempre pura
        E divinal
Seja-me a tua frescura,
        Ó lírio astral!

Que ela, enfim, me transfigure
        Na hora fatal
E os meus sentidos apure,
        Ó lírio astral!

Que tudo que me é avaro
        De luz vital,
Nessa hora se tome claro,
        Ó lírio astral!



Fonte: "Faróis", Laemmert & Cia Livraria, 1900.
Originalmente publicado em: "Faróis", Laemmert & Cia Livraria, 1900.

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