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Poema de Ildefonsa Laura César


Ah! meu Bem! é deleitoso
Recordar ternos instantes
Que dois sensíveis amantes
Desfrutam em pleno gozo.
Não há prazer mais gostoso
Que o néctar provar d'amor;
Mas se amargo dessabor
O seu flagelo vem ser,
Basta fazê-los sofrer
Duma saudade o rigor.

Ela me tem mergulhada
Na mais horrível tristeza.
Da sorte sinto a fereza;
Vivo, mas desanimada.
De ver-te, meu Bem, privada
Não faço senão chorar!
E posso alívio encontrar?
Não, que longe de meu Bem
Mortal ciúme também
Vem-me o peito apunhalar.

Assim a vida se passa
Entre a dor, entre o pesar,
Sem que se possa vedar
Da Fortuna a mão escassa!
Embora pretenda e faça
Parecer mais moderada
A causa porque, magoada,
Dou-me à rude padecer:
Tanto que não sei dizer
Se é triste não ser amada.

Neste erma solidão
Onde vivo desconte
Por não ter-te aqui presente,
Se aumenta minha aflição.
Constante meu coração
Se firma a te idolatrar,
Mas nada o faz sossegar
Se vives de mim distante.
Neste estado delirante
É martírio ausente amar.



Fonte: "Ensaios Poéticos", Tipografia Epifânio J. Pedroza, 1844.
Originalmente publicado em: "Ensaios Poéticos", Tipografia Epifânio J. Pedroza, 1844.

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