12. Serra do Amolar


Poema de crroma



Pegadas de veados
perseguidos por onças-pintadas
marcam o chão de areia branca.
Pegadas de antas, gatos silvestres,
cachorros-do-mato
criam uma forma de escrita
pela remota Serra do Amolar, terra
do encontro entre bichos,
plantas e paisagens.

Nos planos mais baixos,
reina o Cerrado
de manduvis, de ipês,
entremeado por cambarás
e mais plantas amazônicas.
Sobem os morros as figueiras,
os jacarandás da floresta
Atlântica verde-escura.
Mas param antes dos cumes,
que o Cerrado outro vez ocupa.

Microcosmo onde habitam
jaguarundis, lobos-guarás,
tamanduás, ariranhas,
araras, cutias
e o muito raro tatu-canastra,
vítima comum do fogo.

(No calor,
os tatus-canastra nadam
em piscina natural.)

Também palpitam palmeiras
pantaneiras como bocaiúvas, acuris, carandás.

As montanhas se alteiam mil metros,
formam vales onde os bichos, longe
dos campos e margens dos rios,
se escondem de balas ou queimaduras.

E têm centenas de vozes,
têm cantares, coaxares,
têm nas águas mensagens dos peixes
que se devia escutar no almoço,
ao abrir os portões das escolas,
entre as roupas que os cabides
impedem amarrotar.
Porém, pouco se escuta.

No sopé da Serra, à beira
de um rio, um tuiuiú
cobre de asas o ninho.
Protege o filhote do ardor,
do vento forte,
leva água no bico e o molha,
leva comida. Sobrevive.




(Do O Globo: 'Onde a natureza resiste: rodeado pelo fogo, santuário na Serra do Amolar, no Pantanal, usa IA como aliada da preservação')