Se eu morresse amanhã!


Poema de Álvares de Azevedo



Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar os olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce n’alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito,
Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos,
Se eu morresse amanhã!



Fonte: "Poema irônicos, venenosos e sarcásticos", Fundação Biblioteca Nacional, 2002.
Originalmente publicado em: "Poema irônicos, venenosos e sarcásticos", 1853.

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