As nuvens
Poema de Olavo Bilac
Nuvem, que me consolas e contristas,
Tenho o teu gênio e o teu labor ingrato:
Essas arquiteturas imprevistas
São como as construções em que me mato...
Nunca vemos, misérrimos artistas,
A vitória deste ímpeto insensato:
A um sopro benfazejo, que conquistas!
A um hálito cruel, que desbarato!
Nuvens de terra e céu, brincos do vento,
Vai-se-nos breve a essência no ar varrida...
Irmã, que importa? ao menos, num momento
No fastígio falaz da nossa lida,
Tu, nas miragens, e eu, no pensamento,
Somos a força e a afirmação da Vida!
Fonte: Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro
Originalmente publicado em: "Tarde", 1919.