Transparências
Poema de Antonio Cicero
Venho da praia de um verão em que as ondas rolam
redondas e lisas sobre o mar sem formar espuma
e olhos gulosos engolem glaucas e mornas transparências
goles de luz azul e verde
fazendo inveja à língua aos lábios e à goela
Por que me arrastas por areias sem águas
ou zonas infestadas de feras
ou paludes sombrios
ou friagens cíticas
ou mares coagulados
Por que me queres nessa terra monstruosa e trágica
onde erram poetas e mitógrafos
e nada é certo nada claro
Fonte: "Guardar - poemas escolhidos", Record, 2006.
Originalmente publicado em: "Guardar", Record, 1996.