Falar e dizer

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Poema de Antonio Cicero



Não é possível que portentos não tenham ocorrido
Ou visões ominosas e graves profecias
Quando nasci.
Então nasce o chamado
Herdeiro das superficies e das profundezas então
Desponta o sol
E não estremunha aterrado o mundo?
Assim à idade da razão
Vazei os olhos cegos dos arúspices e,
Fazendo rasos seus templos devolutos,
Desde então eu designo no universo vão
As coisas e as palavras plenas.

Com elas
Recôndito e radiante ao sopro dos tempos
Falo e digo
Dito e decoro
O caos arreganhado a receber-me incontinente.




Fonte: "Guardar - poemas escolhidos", Record, 2006.
Originalmente publicado em: "Guardar", Record, 1996.