O que chegou de outros mundos
Poema de Mario Quintana
Tenho uma cadeira de espaldar muito alto
para o visitante noturno
e enquanto levemente balanço entre uma e outra vaga de sono,
ei-lo
- O que chegou de outros mundos
ali sentado e sem um movimento.
Talvez me olhe como se eu fora a branca estátua derribada de um deus.
Talvez me olhe como a uma forma já ultrapassada
(que tudo o seu espanto e imobilidade pode dizer).
E eu
então
- ele ainda deve estar ali!
levanto-me e vou cumprindo
todos os meus rituais.
Todos os estranhos rituais de minha condição e espécie.
Religiosamente. Cheio de humildade e orgulho.
Fonte: "Poesia Completa", Editora Nova Aguilar, 2006.
Originalmente publicado em: "A vaca e o hipogrifo", 1977.