Quadras populares 421 a 440


Poema anônimo



421

Inda agora é que cheguei. 
Inda não saudei ninguém:
Boa noite pras senhoras
E para os homens também.
 
422

Inhame verde é veneno,
É veneno de matar:.
Moreninha eu vou morrer
Somente pra não casar

423

Inda tenho uma esperança
De teu carinho gozar,
Se a vida me proteger,
Se a morte não me levar.

424

Ingrata, eu bem te dizia
Que isto havia de ter fim.
Olha como saiu certo:
Já te esqueceste de mim!

425

Inda depois de enterrado
Debaixo do frio chão,
Verás teu nome gravado
No meu terno coração.

426

Já tive dias felizes,
Já zombei da sorte austera;
Perdi os mimos de outrora,
Já não sou quem dantes era.

427

Já te dei tudo que tinha,
Nada mais te posso dar;
Cessa, ó cessa teu desprezo,
Não tens mais que desprezar.

428

Joguei o laço na moça,
O laço caiu no chão.
A moça me respondeu:
"Desta vez eu não vou, não."

429

Já perdi toda esperança
De vencer o teu rigor.
Este peito não se cansa
De jurar-te infindo amor.

430

Juntinho da cruz quebrada
Enterrei meu coração,
Porque ali a namorada
Me jurou sua afeição.

431

Já rompi mil embaraços,
Já dispus a natureza,
Somente para te amar
Cada vez com mais firmeza.

432

Já toquei fogo no templo
Onde fazia oração;
Já deitei tudo por terra
Feito pó, cinza, carvão.

433

Já te quis, hoje não quero,
Já te perdi a afeição;
Fui obrigado a tirar-te
Fora do meu coração.

434

Já te podia ter dado
O meu leal coração,
Mas receio que tu faças
Dele pouca estimação

436

Junto com a minha viola
Eu ando de arretirada:
Ela se queixa de sol,
Eu de queda e de topada.

4 3 7

Já se quebraram os laços
Em que preso me tiveste:
Já tomaste outros amores
- Foi favor que me fizeste.

438

Cágado é bicho perrengue,
Mas ateima ate chegar:
O meu amor é constante
- Inda vem a te alcançar.

439

Laranjeira pequenina
Carregadinha de flores;
Eu também sou pequenina
Carregadinha de amores.

440

Lá vai a garça voando
Com as penas que Deus lhe deu;
Contando pena por pena,
Mais penas padeço eu.



Fonte: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.
Originalmente publicado em: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.

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