Quadras populares 321 a 340


Poema anônimo



321

Estes mocinhos de agora
Só nos querem enganar;
Façamos nós outro tanto
Para taboa a todos dar.

322

Estes mocinhos de agora
O seu prazer é mentir;
Fingem tudo quanto podem
Para melhor conseguir.

323

Estes mocinhos de agora
A vergonha já perderam,
E da ronha e da maldade
Muito suco já beberam.

324

Eu amei-te tão sincero,
Tão santa e devotamente,
Que teu desprezo só mostra
Seres ingrata, inclemente.

325

Eu oculto o quanto posso
O que sofre o coração;
Sofre muito, mas não mostra
Nenhum sinal de aflição.

326

Em paga de meus extremos
Dás-me cicuta a beber;
Em paga de teus desprezos
Hei de amar-te até morrer.

327

Eu não quero mais amar
Nem achando quem me queira:
O primeiro amor que tive
Botou-me sal na moleira.

328

Eu já sei que alguém te disse
Que eu não queria te ver;
Não creias nessa tolice:
Hei de amar-te até morrer.

329

Eu vi uma risadinha,
Era o meu bem de devera :
Tomei reconhecimento,
Chorei por ver que não era.

330

Embarquei numa canoa,
Fui rodando rio abaixo:
Fui fazer minha pousada
Pra baixo daquele salto.

331

Eu trepei naquele morro
Para ver o sol nascer:
Enxerguei o mundo inteiro,
Só meu bem não pude ver.

332

Eu não tenho pai nem mãe,
Sou sozinho neste mundo:
Sou filho das águas claras:
Neto da areia do fundo.

333

Eu não sou da terra, não,
Eu sou lá do Tararé:
Só procuro um cabra bom
P ra rufar comigo o pé.

(Tararé = Itararé; fronteira dos Estados de São Paulo e Paraná)

335

Eu subi nos altos montes,
Topei um menino em pé;
Chorando lhe perguntei :
"Paixão de amor, o que é ?"

336

Eu amo a quem não me quer
E desprezo a quem me ama;
Fujo de quem me procura,
Quero bem a quem me engana.

337

Eu venho de longes terras,
Passei por matas medonhas;
Venho sonhando contigo...
Tu comigo também sonhas?

338

Eu hei de morrer cantando
Já que chorando nasci,
Para ver se recupero
O que chorando perdi.

339

É cachorro todo aquele,
Cá na minha opinião,
Todo aquele que foi dono
E depois se fez ladrão.



Fonte: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.
Originalmente publicado em: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.

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